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Dois pernambucanos, dois escritores, dois poetas: a poesia de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto


Com versos estruturados e harmoniosos e suas rimas e métricas, a poesia é um gênero literário que desperta sentimentos - comove e sensibiliza. Por isso, cumpre, através dos anos, e dos estilos, um papel na sociedade. "Às vezes a literatura é feita para distrair as pessoas da realidade e às vezes o contrário, ela é feita para mostrar às pessoas uma realidade inaceitável do ponto de vista social e político", explica a professora de literatura Flávia Suassuna.
Assim como aconteceu nas artes plásticas e na prosa, a poesia brasileira, a partir da década de 20, também adotou os ideais modernos das vanguardas europeias. Os poetas da primeira fase do modernismo queriam uma reforma radical na linguagem, uma ruptura definitiva com a arte tradicional.

Um dos poetas que se destacaram nesse período foi Manuel Bandeira. No poema "O bicho", ele mostra o cotidiano degradante do homem. "Ele não trabalha predominantemente com temas sociais, mas tem um poema com essa mesma temática. 'Vi ontem um bicho na imundície do pátio, catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, não examinava nem cheirava, engolia com voracidade. O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem'", declama a professora.

Em 1945, o mundo comemorou o fim da Segunda Guerra. No Brasil, o ano foi marcado pela queda de Getúlio Vargas. E na poesia brasileira, surgiu uma nova geração que colocou os problemas políticos em segundo plano. Os poetas da terceira fase do modernismo foram chamados de “Geração de 45” e entre eles estava um grande nome pernambucano, outro recifense: João Cabral de Melo Neto.

"João Cabral faz uma quebra do lirismo da tradição. Às vezes, a gente pode pensar que o lirismo dele é estranho, mas na verdade João Cabral está construindo um novo conceito. Ele faz uma quebra do conceito tradicional de poesia e traz pra dentro do universo poético uma poesia nova, muito diferente e que talvez seja um pouco estranha", diz Suassuna.

Da obra de João Cabral de Melo Neto, podemos destacar três livros: "Morte e Vida Severina", "O Rio" e "O Cão Sem Plumas", que fala sobre o Rio Capibaribe. "Nesse livro, João Cabral de Melo Neto faz uma denúncia extremamente forte sobre as questões da população ribeirinha do Rio Capibaribe, aqui no Recife, e de como essas questões sociais e políticas desumanizam o homem. É claro que ele faz isso com a linguagem da poesia, que é altamente metafórica, conotativa, e, na verdade, apesar do assunto ser muito doloroso, muito difícil, na nossa sociedade nós temos muita beleza nas palavras com as quais ele trabalha a questão. ‘A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro, uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão. Aquele rio era como um cão sem plumas, nada sabia da chuva azul, da fonte cor de rosa, do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água'", recita a professora.

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